História e memória | ||
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terça-feira, 27 de setembro de 2011
E da Tijuca veio a luz. É isso. Obrigada Rosanita bela!
domingo, 11 de setembro de 2011
Se ir...
A gente se dilui
aos poucos
quase como uma saudade
como um copo de água
no meio da sede
das areias
das cidades submersas
a gente se desfaz
se vai
e fica
se liquidifica
amanhece
absorve tempo
falta
assopra
corre
volta
vai de novo
se assopra
devaneia
A gente é silêncio
palavra
incompreendida
alucinada
letras inteiras partidas
separadas
subtraídas
trem de metrôs
líquidas
saliva
pedaços de mar
de ventos
somos esse mundo inteiro
ou apenas
tudo o que a gente lembra...
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
... Será que viver é estar na memória?
Memória (Cecília Meireles)
Minha família anda longe,
com trajos de circunstância:
uns converteram-se em flores,
outros em pedra, água, líquen;
alguns, de tanta distância,
nem têm vestígios que indiquem
uma certa orientação.
Minha família anda longe,
- na Terra, na Lua, em Marte -
uns dançando pelos ares,
outros perdidos no chão.
Tão longe, a minha família!
Tão dividida em pedaços!
Um pedaço em cada parte...
Pelas esquinas do tempo,
brincam meus irmãos antigos
uns anjos, outros palhaços...
Seus vultos de labareda
rompem-se como retratos
feitos em papel de seda.
Vejo lábios, vejo braços,
- por um momento persigo-os;
de repente, os mais exatos
perdem sua exatidão.
Se falo, nada responde.
Depois, tudo vira vento,
e nem o meu pensamento
pode compreender por onde
passaram nem onde estão.
Minha família anda longe.
Mas eu sei reconhece-la:
um cílio dentro do oceano,
um pulso sobre uma estrela,
uma ruga num caminho
caída como pulseira,
um joelho em cima da espuma,
um movimento sozinho
aparecido na poeira...
Mas tudo vai sem nenhuma
noção de destino humano,
de nenhuma recordação.
Minha família anda longe.
Reflete-se em minha vida,
mas não acontece nada;
por mais que eu esteja lembrada,
ela se faz de esquecida;
não há comunicação!
Uns são nuvens, outros, lesma...
Vejo as asas, sinto os passos
de meus anjos e palhaços
numa ambígua trajetória
de que sou o espelho e a história..
Murmuro para mim mesma:
"É tudo imaginação!"
Mas sei que tudo é memória
Minha família anda longe,
com trajos de circunstância:
uns converteram-se em flores,
outros em pedra, água, líquen;
alguns, de tanta distância,
nem têm vestígios que indiquem
uma certa orientação.
Minha família anda longe,
- na Terra, na Lua, em Marte -
uns dançando pelos ares,
outros perdidos no chão.
Tão longe, a minha família!
Tão dividida em pedaços!
Um pedaço em cada parte...
Pelas esquinas do tempo,
brincam meus irmãos antigos
uns anjos, outros palhaços...
Seus vultos de labareda
rompem-se como retratos
feitos em papel de seda.
Vejo lábios, vejo braços,
- por um momento persigo-os;
de repente, os mais exatos
perdem sua exatidão.
Se falo, nada responde.
Depois, tudo vira vento,
e nem o meu pensamento
pode compreender por onde
passaram nem onde estão.
Minha família anda longe.
Mas eu sei reconhece-la:
um cílio dentro do oceano,
um pulso sobre uma estrela,
uma ruga num caminho
caída como pulseira,
um joelho em cima da espuma,
um movimento sozinho
aparecido na poeira...
Mas tudo vai sem nenhuma
noção de destino humano,
de nenhuma recordação.
Minha família anda longe.
Reflete-se em minha vida,
mas não acontece nada;
por mais que eu esteja lembrada,
ela se faz de esquecida;
não há comunicação!
Uns são nuvens, outros, lesma...
Vejo as asas, sinto os passos
de meus anjos e palhaços
numa ambígua trajetória
de que sou o espelho e a história..
Murmuro para mim mesma:
"É tudo imaginação!"
Mas sei que tudo é memória
Vanina, resolvi corrigir.. ou deixemos Ápide mesmo?
É bonito ver como as palavras são poderosas e nos permitem leituras. Basta uma troca de letra e tudo pode mudar, as perspectivas.. as imagens e sentidos.
Por aqui acabo de acordar e são 16hs, foi o sono de uma noite em claro.
E sobre as lápides; elas contam muito porque são poderosas, pequenos registros sintéticos da vida que alí jaz. O nome, as filiações e as datas de vida e de morte. Lembro que sempre visitava o túmulo de minha prima Patrícia, ela era paraplégica e eu a conheci em vida, depois ía visitá-la no cemitério e era, através de sua pequena foto na lápide que ela se fazia viva em mim. Tinha um orgulho danado disso e era um momento prazeroso.
Será que viver é estar na memória?
É bonito ver como as palavras são poderosas e nos permitem leituras. Basta uma troca de letra e tudo pode mudar, as perspectivas.. as imagens e sentidos.
Por aqui acabo de acordar e são 16hs, foi o sono de uma noite em claro.
E sobre as lápides; elas contam muito porque são poderosas, pequenos registros sintéticos da vida que alí jaz. O nome, as filiações e as datas de vida e de morte. Lembro que sempre visitava o túmulo de minha prima Patrícia, ela era paraplégica e eu a conheci em vida, depois ía visitá-la no cemitério e era, através de sua pequena foto na lápide que ela se fazia viva em mim. Tinha um orgulho danado disso e era um momento prazeroso.
Será que viver é estar na memória?
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
Ápice... Ápide...
Digerindo...
E enquanto ocorre a digestão reparo em um "ato fallho".
No ápice do blog, no lugar de ápice leio ápide...
me sugere lápide...
e nas lápides em geral vão frases relacionadas às memórias dos que jazem.
Tem um lado triste, tem um lado singelo.
ápice, ápide, lápide..
e tudo digerindo!
QUE HISTÓRIA VOCÊ TEM PARA CONTAR?
Abrindo a mesa.
08 de setembro.
Dia de encontro com Paula. Michel não veio, ela vem..
Na mesa o café posto, as bolachas e os pensamentos.
Desejo de saber de velho.
Que história você tem para contar? Você terá alguma história pra contar?
E na escuta o registro do que já foi e todavia é..
Ah, e só pra registrar; as aquarelas tem falado coisas.
A poesia também.
Carta aos Mortos
Affonso Romano de Sant´Anna
Amigos, nada mudou
em essência.
Os salários mal dão para os gastos,
as guerras não terminaram
e há vírus novos e terríveis,
embora o avanço da medicina.
Volta e meia um vizinho
tomba morto por questão de amor.
Há filmes interessantes, é verdade,
e como sempre, mulheres portentosas
nos seduzem com suas bocas e pernas,
mas em matéria de amor
não inventamos nenhuma posição nova.
Alguns cosmonautas ficam no espaço
seis meses ou mais, testando a engrenagem
e a solidão.
Em cada olimpíada há récordes previstos
e nos países, avanços e recuos sociais.
Mas nenhum pássaro mudou seu canto
com a modernidade.
Reencenamos as mesmas tragédias gregas,
relemos o Quixote, e a primavera
chega pontualmente cada ano.
Alguns hábitos, rios e florestas
se perderam.
Ninguém mais coloca cadeiras na calçada
ou toma a fresca da tarde,
mas temos máquinas velocíssimas
que nos dispensam de pensar.
Sobre o desaparecimento dos dinossauros
e a formação das galáxias
não avançamos nada.
Roupas vão e voltam com as modas.
Governos fortes caem, outros se levantam,
países se dividem
e as formigas e abelhas continuam
fiéis ao seu trabalho.
Nada mudouem essência.
Cantamos parabéns nas festas,
discutimos futebol na esquina
morremos em estúpidos desastres
e volta e meia
um de nós olha o céu quando estrelado
com o mesmo pasmo das cavernas.
E cada geração , insolente,
continua a achar
que vive no ápice da história.
08 de setembro.
Dia de encontro com Paula. Michel não veio, ela vem..
Na mesa o café posto, as bolachas e os pensamentos.
Desejo de saber de velho.
Que história você tem para contar? Você terá alguma história pra contar?
E na escuta o registro do que já foi e todavia é..
Ah, e só pra registrar; as aquarelas tem falado coisas.
A poesia também.
Carta aos Mortos
Affonso Romano de Sant´Anna
Amigos, nada mudou
Os
as guerras não terminaram
e há vírus novos e terríveis,
embora o avanço da medicina.
Volta e meia um vizinho
tomba morto por questão de amor.
Há filmes interessantes, é verdade,
e como sempre, mulheres portentosas
nos seduzem com suas bocas e pernas,
mas em matéria de amor
não inventamos nenhuma posição nova.
Alguns cosmonautas ficam no espaço
seis meses ou mais, testando a engrenagem
e a solidão.
Em cada olimpíada há récordes previstos
e nos países, avanços e recuos sociais.
Mas nenhum pássaro mudou seu canto
com a modernidade.
Reencenamos as mesmas tragédias gregas,
relemos o Quixote, e a primavera
chega pontualmente cada ano.
Alguns hábitos, rios e florestas
se perderam.
Ninguém mais coloca cadeiras na calçada
ou toma a fresca da tarde,
mas temos máquinas velocíssimas
que nos dispensam de pensar.
Sobre o desaparecimento dos dinossauros
e a formação das galáxias
não avançamos nada.
Roupas vão e voltam com as modas.
Governos fortes caem, outros se levantam,
países se dividem
e as formigas e abelhas continuam
fiéis ao seu trabalho.
Nada mudou
Cantamos
discutimos futebol na esquina
morremos em estúpidos desastres
e volta e meia
um de nós olha o céu quando estrelado
com o mesmo pasmo das cavernas.
E cada geração , insolente,
continua a achar
que vive no ápice da história.
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